domingo, fevereiro 19, 2006

Um fim para um princípio!

A vida que vivemos todos os dias está longe de ser a vida que muitas vezes as personagens dos livros que lemos vivem. Começam mal e acabam sempre bem, só não têm é a célebre frase de “E viveram felizes para sempre”. Num livro podemos deturpar a realidade, podemos modificar aquele pedaço que vivemos e que não gostaríamos de ter vivido daquele modo. Num livro, podemos inventar, podemos criar as situações e os momentos que gostaríamos um dia de viver. Num livro podemos tanta coisa, mas tudo tem um quê de realidade, cada pedaço, cada letra que escrevemos, cada frase que construímos. Há coisas que são mentira, porém existem outras que são verdade. Aquelas que por vezes pensamos serem as verdadeiras são mentira e as que pensamos serem mentira são verdade. É aí que reside a magia. Quem lê nunca entende o porquê de se ter escrito assim. Quem lê pensa que sabe mas, se formos a ver, não sabe. As coisas nem sempre são o que à primeira vista parecem ser e uma história ou histórias de amor são, de longe, uma autobiografia.
As pessoas com quem vivemos cada um dos nossos dias, as pessoas que encontramos ao longo da nossa vida e as pessoas que nos deixam influenciam-nos, quer seja positiva ou negativamente. Essas pessoas, muitas das vezes, obrigam-nos a ver o mundo de outra perspectiva, obrigam-nos a ver o outro lado da vida. É com essas pessoas, que muitas vezes percebemos que não nos conhecemos como pensávamos que nos conhecíamos. Todas estas pessoas dão um novo sentido à nossa vida. Todas estas pessoas são importantes para nós. Ganhamo-las, perdemo-las, mas a vida é assim, é feita de sucessivos ganhos e sucessivas perdas porque tudo é fugaz.
Existem períodos da nossa vida em que estamos completamente mergulhados numa solidão que nunca quer desaparecer. Nestes períodos viramo-nos para o nosso umbigo e quando alguém passa tentamos rapidamente agarrar essa pessoa porque pensamos sempre que é a nossa salvação. Quando a solidão nos atinge não sabemos como sair de lá. Há um impasse em nós: o sair para não ficar só e o continuar para poder continuar a sonhar como queremos. É certo que a vida é feita de sonhos mas é preciso viver sonhando, mais do que sonhar vivendo. É preciso criar resistências, criar forças para lutar contra esse animal medonho que a única coisa que pretende é alimentar-se de nós, das forças que ainda nos restam.
Os sucessivos acontecimentos obrigam-nos, muitas das vezes, a fazer escolhas. Somos muitas vezes forçados a escolher com a razão e não escolher com o coração porque sabemos que, se calhar, a escolha que fizermos com o coração não é a melhor escolha. Quando temos de escolher, não avaliamos as consequências na sua totalidade. Pensamos no que pode acontecer, mas nunca nos debruçamos sobre o assunto. Depois de termos escolhido, começamos a olhar para trás e é nessa altura que pensamos que as coisas podiam não ser assim. Sofremos e continuamos a sofrer quando pensamos no que deixámos para trás, no que poderíamos ter feito e não fizemos, nas pessoas que tinhamos a 10% e que agora deixámos de ter. Não existem réstias de posse. Mas talvez o facto de termos deixado pessoas para trás tenha sido o melhor. Em certos casos sabemos que nunca iríamos ter essas pessoas a 100%, embora a palavra ainda esteja presente em nós. Apesar de tudo, há coisas e momentos que ainda nos levam de volta a essas pessoas, quando o melhor seria nos desligarmos por completo delas. Porquê? Não o sabemos. Sabemos apenas que há palavras que guardamos e que esperamos, num momento certo, as poder dizer. São as palavras que por vezes não são ditas que nos tornam o coração e a alma pesados, e que, mais tarde, quando achamos o tempo exacto para as dizer já elas envelheceram, ou não!
A mudança que tive nos últimos meses obrigou-me a crescer. Obrigou-me a ver a vida de uma maneira diferente. Dou ainda mais importância às pequenas coisas, mais ainda do que já dava. Das pessoas que conheci, algumas já fazem parte de mim e, neste momento, seria difícil desligar-me de algumas. Não quero com isto dizer que tenha esquecido aquelas que deixei para trás. Pelo contrário! Continuo, todos os dias a pensar nelas. Não existe um dia que não pense. Não existe um dia que, por momentos, não as deseje reencontrar, nem que seja somente para dizer “Olá!”, na rua, no comboio, no autocarro, no jardim, no café, num centro comercial.
O que ultimamente tenho tentado fazer é pensar noutras coisas, é ter o pensamento ocupado. Não vou ser cínica ao ponto de dizer que não acredito que a palavra Ainda existe e que eu, um dia, ainda serei feliz, ainda encontrarei aquela pessoa com o sorriso que considero giro. Há sempre tempo para Amar....
Espero que as lágrimas que tenha deixado escapar durante o tempo em que escrevi não tenham sido em vão. Na verdade, acho que não foram. As palavras que aqui escrevi foram palavras sinceras, tão sinceras, que as lágrimas acabaram por rolar pela face.
É tempo de pôr um ponto final nas palavras que aqui escrevi, nas histórias que construí. É tempo de, por momentos, suspender as lágrimas e as guardar numa caixa. Existe uma vida lá fora, ainda.


Dezembro de 2005

Pelo sonho é que vamos...


Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos
Pelo sonho é que vamos.