Hoje, à hora do almoço, a esposa de um dos meus doentes foi visitá-lo, como tem feito todos os dias desde que ele está internado. Eu tinha lá ido ao quarto onde ele estava, saber se precisavam de alguma coisa. Ele estava sentado no cadeirão, no meu lado direito. A esposa estava do meu lado esquerdo, de frente para ele. Perguntei, virada para ambos, se o meu doente precisava de alguma coisa. Ele respondeu baixinho e eu repeti "Precisa?". E depois? Depois a esposa, que estava de frente para ele, baixou os joelhos, tocou-lhe na perna e perguntou, olhos nos olhos "precisas de alguma coisa meu querido?". E eu parei e os meus olhos pararam. No mesmo instante pensei que o amor era aquilo mesmo. Era estar de frente para aquele que gostamos, olhos nos olhos, mão na perna, perguntar se precisa de alguma coisa, dizer meu querido. O amor era aquilo mesmo. Era o resultado de uma vida a dois, onde enquanto dantes eram os dois que podiam baixar os joelhos, olhar nos olhos e tocar na perna, agora só um o pode fazer. O amor era aquilo e estava mesmo à minha frente. E foi aí que eu desejei ter aquele amor com a minha idade. E a vida pessoal ia entrando pela vida profissional, não fosse eu ter dado meia volta e saído do quarto com um sorriso nos lábios e o coração nos olhos... "Se precisar de alguma coisa peça..."
Por mais que eu queira que os outros acreditem, eles não acreditam. Então aí, quando mais ninguém acredita, eu acredito. E basta eu acreditar...!
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