Porque venho eu de longe, quando poderia vir de tão perto?
Porque quero ir tão longe se, na realidade, poderia ficar aqui bem perto?
Porque razão venho de onde quero e não vou para onde queria ir?
Quem somos nós, tu e eu? Onde estamos? De onde vimos? Para onde é que vamos?
Porque vens de longe para voar ainda mais, quando, na realidade, eu e tu podiamos ficar aqui bem perto?
Sei que trago o meu fado comigo, de onde venho. Carrego-o para onde quer que vá, mesmo que o caminho seja árido, incerto, desconhecido. Ando com ele às costas, deixando por vezes transparecer, sem querer, como ele é demasiado pesado para mim, para mim que sou tão frágil e insegura. Cada um tem o que merece, será?
E quando caminho por esta estrada de desejos vãos sou fadista louca. Tive a louca loucura de torná-los não vãos, de torná-los possíveis, de torná-los loucos, tal e qual eu, tal e qual a minha loucura. E porquê? Porque enquanto ia caminhando, houve palavras loucas que me beijaram como se tivessem boca, palavras nuas, que pareciam que tinham corpo. Palavras de esperança, coloridas, tal e qual arco-íris que traz consigo os raios de Sol quentes depois da chuva intempestuosa. Mas tal como é urgente a Primavera e o Verão, também o é o Outono e o Inverno. Novembro 7, é dia de chuva e de pequenos raios de Sol, mas a chuva, essa é soberana: impera, impõe-se, nestas pedras da calçada que piso. E eu que caminho descalça por esta estrada de desejos possíveis, loucos, tal e qual a minha loucura, caminho com o fado às costas e caminho à chuva, na ânsia desmedida de um arco-íris.
Sei de onde venho, mas não sei de onde tu vens. Sei onde estou, mas não sei onde tu estás. Não sei para onde vou, nem sei para onde tu vais. Só sei, como dizia o outro, que "não vou por aí". *Uma das almas da minha alma*