quarta-feira, fevereiro 21, 2007

R.I.P.

A minha mãe sempre me disse "Nós não somos nada. De um momento para o outro estamos aqui, existimos. No segundo a seguir já não estamos." E porque razão nos preocupamos com coisas parvas se quando saimos desta vida vamos todos para o mesmo sítio e somos deixamos tudo para trás? São muito poucas as pessoas que conheço que sairam desta vida que tanto eu como vocês vivemos. Quando a minha avó morreu eu tinha 3 anos e fiquei cheia de borbulhas no corpo. Mas naquela altura não chorei. Naquela altura eu não percebia que a minha avó tinha abandonado a minha vida e tinha partido para outro sítio. Naquela altura eu ainda era criança e as memórias dela, as poucas que tenho, não percorriam o meu pensamento como às vezes, nos dias que correm, percorrem. Hoje choro. Não choro porque alguém da minha família morreu, mas choro porque saiu desta vida uma pessoa que eu me habituei a ouvir falar e que nunca cheguei a conhecer. E sei que não choro tanto como Tu que estás aí. Sei que não choro tanto porque de certeza que a tua dor é maior do que a minha dor. E sei que tudo ainda é irreal para ti, como também é para mim. E provavelmente tens 1001 recordações a percorrer-te o pensamento. E provavelmente te perguntas porquê ele? E se pudesses talvez quisesses mudar o rumo da vida dele e desenhá-lo de maneira diferente. E provavelmente se aquele camião não se tivesse despistado nada disto estaria a acontecer. Hoje, agora, talvez tente entender o porquê de vocês nunca terem estado os dois a 100%. Talvez eu entenda o porquê de haver sempre uma qualquer distância entre vocês. Talvez a dor fosse ainda maior do que é agora se nunca tivesse existido a distância que existiu. Mas independentemente de tudo, uma coisa é certa: tu foste a mulher da vida dele e acredito que ele, neste momento, já apanhou um avião e está mesmo aí ao teu lado, mesmo que tu não o consigas ver, como acredito que, por vezes, também tenho a minha avó do meu lado.
E agora? Agora é tempo de deixar o silêncio falar

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