Vou aqui sentada, nesta cadeira azul sem vista para o mar. À minha volta estas gentes pintadas de cinzentos, de cores escuras, tal como o tempo que faz hoje. Mangas curtas, mangas comprimidas, sapatos fechados e sandálias, gentes que lêem o jornal para poderem debater o assunto "o país em que vivemos", outras que se maquilham porque o patrão gosta mais assim e podem ser promovidas. Andamos todos sem dinheiro! Depois há os viciados, aqueles que duas estações antes já tiraram um cigarro e um isqueiro e o colocaram no bolso do casaco. É a merda do vício. E no meio de todos estes estou eu, também viciada, mas não num vício que me faz colocar o cigarro na boca no exacto momento em que ponho o pé fora do comboio. Antes fosse! Este meu vício é pior. Vai-me matando sem eu me dar conta, sem ter a prova numa "fotografia aos pulmões". Vai matando, uma vez, e outra vez, e mais outra. Mas esta morte, esta morte é por gosto e com gosto porque sabe bem morrer.
O meu vício é um vício talvez igual ao teu. É o vício do amor. É este vício que me consome as 24 horas do dia e que, no final destas, me faz querer ter outra alma para poder morrer de novo. A verdade é que o amor dói, mas ainda não existem medicamentos para esta dor, pelo menos aqueles que o médico nos pode prescrever. E quanto mais minutos passo nesta vida, mais tenho a certeza que o amor com amor se cura.
Hoje venho neste comboio com destino a Roma-Areeiro, com a neura, a neura especial de uma 6ª feira, aquela que não me deixa acreditar por momentos. Mas eu continuu a saber o que quero! Quero este vício, quero este vício com tudo o que tenho direito. Quero-te e é por isso que vou continuar a andar na estrada que me leva a ti.
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