terça-feira, junho 19, 2007

O vendedor de livros de Alvalade

Todos os dias no meu caminho para a Faculdade o vejo. É alí, em Alvalade, que ele está, sentado num banco encostado à parede de uma casa. Chamo-lhe o vendedor de livros mas, na verdade, ele não os vende. Aliás, todos os dias lá passo e nunca vi ninguém ali parar, nunca eu ali parei. E mesmo aqueles que apanham um autocarro na paragem mesmo em frente à banca dele não o vêem. Nem as poucas pessoas que devem ir ao cabeleireiro da casa com a parede onde ele se encosta o vêem. Ninguém o vê e poucos o devem ouvir. Mas, mesmo assim, ele continua alí. Faça Sol, esteja nublado ou mesmo que chova, ele continua alí, sentado no seu banco, com a perna cruzada e a calça de ganga vestida. Ele continua alí, impávido e sereno, à espera que alguém passe e resolva comprar um livro, um daqueles bem antigos que provavelmente se encontrarão numa Bertrand ou numa Fnac em muito melhor estado.
Quem passa por este velho vendedor de livros, passa e fica com ele. Fica com ele no pensamento pelo olhar triste de quem está só, pelo olhar triste de quem parece que vive só e, também pelo olhar triste de quem tenta viver daquele ofício. Fica no pensamento por nos fazer pensar que a solidão existe e que, quando chegarmos à velhice, não queremos ser mais uns, sentados num banco com a perna cruzada, tal e qual o vendedor de livros de Alvalade, à espera que alguém passe, olhe e resolva comprar-nos um livro.
Há dias em que vejo este velho vendedor de livros a chegar e montar a banca de livros, sem saber de onde vem. Outros, quando vou para casa, vejo-o a ir embora, sem saber muito bem para onde vai. E pensar que também eu, por vezes, não sei onde vou, faz-me querer não ir por onde ele vai. Porque a minha vida não quer acabar na solidão da Lisboa Chique, com gentes a passar pela calçada e a irem embora. Isto, isto eu tenho a certeza.

3 comentários:

Anónimo disse...

Diva **
Gostei do texto, profundo, com um k de n sei k, mas gostei bastante (como de kuase todos k escreves).
Como sabes paro pouco nessas bandas, muito menos a pé, mas da unica vez k la passei reparei no senhor, inclusive tive pra ir ver os livros com atençao, mas o tempo não mo permitiu; permite-me tu dizer k o sr não é um "vendedor de livros" mas um alfarrabista e que os livros k la tem provavelmente nao encontras na fnac ou na bertrand, porque sao livros muito antigos e usados, com bastante valor principalmente p coleccionadores ;)
Informaçao dada

Big kiss**

Sara disse...

Quiçá não será esse o homem da minha vida? Quiçá não poderá ser esse homem que vai iluminar a minha vida nos próximos tempos?


Será que não é a minha cena?

=P

Esse texto 'tá a minha cena =P

Bju u u u u u xD *

KelinhA disse...

Eu vejo-o, every single day...
e de cada vez que la passo, tenho vontade de faezr qualquer coisa por ele, arranca-lo da letargia, e fico a pensar no que pode ele pensar durante horas a fios, a ver o 33 passar... fico-me normalmente pela cobardia passo eu tambem por ele. mas so queria que soubesses...eu vejo-o todo os dias.