sábado, julho 28, 2007

quinta-feira, julho 19, 2007

Jovem, que fazer?

"Estas palavras não são um elogio da loucura, nem da violência, nem da droga, nem da marginalidade. Não são também a condenação disso, nem um julgamento, nem um conselho. São talvez um grito e uma denúncia da incompreensão para com os jovens. São uma denúncia do pai, do professor, do político, do padre, do conselheiro, do psiquiatra, de todos aqueles que insistem em integrar o jovem na sociedade que eles, adultos, defendem. Que defendem, mas de que se queixam e onde morrem todos os dias as flores que ainda a alguns restam dessa juventude que também tiveram e não podem já tocar. Integrar os jovens na sociedade pode parecer um acto de pacificação e até um acto de amor. Mas, se a sociedade cai de dia para dia, se a dor e a angústia são as marcas mais patentes no coração do homem, se sentimos todos que estamos como náufragos perdidos num mundo que não aguentamos, então esse acto de amor, não o é. Essa paz é podre e esse amor é falso. Se nos falta coragem para transformarmos a sociedade, transformemo-nos a nós mesmos; se essa tarefa é mais díficil do que resignarmo-nos, e queremos ainda por cima aí meter os jovens, então somos mentirosos, cobardes e impotentes. E se, por acaso, já perdemos dentro de nós, adultos, a faculdade de amar como os jovens, de arriscar e de ser irreverentes para com o que não presta nas nossas vidas, tenhamos então piedade de nós.
Agora falo contigo, jovem. Se, o que aqui escrevo - e escrever é exprimir, como quem fala e como quem respira - te der a ideia de que te estou a dar conselhos, desconfia. Não é isso. Porque só podes aconselhar-te a ti próprio, só tu podes descobrir, e não eu, nem ninguém. Se te escrevo é porque sinto necessidade de o fazer; é porque, ao observar os jovens como tu, e os adultos como eu, me apercebo que algo está profundamente errado. E as minhas reflexões, que aqui vão ficar, são apenas reflexões. Verdade, mentira, não sei. Falo do que me parece e, portanto, falo da minha verdade, que pode não ser verdade. Mas, sobretudo, escrevo-te, como tu dirias, porque sim. Amo-te e isso basta. Vejo-te incompreendido e maltratado, embora amado. Revejo talvez em ti os meus tempos de menino, quase-homem, e sei que hoje tinha razão nas minhas irreverências. Tinha razão porque a irreverência é como um estado de crisálida que quer voar, que quer ser borboleta. Mas os adultos temem muito esses voos, porque um voo é uma insegurança; nada há onde nos agarrarmos, dependemos das nossas asas, do nosso poder e de nos erguermos no espaço, isto é, dependemos de nós mesmos e vamos, de flor em flor, em busca do nectar da vida. Eis também porque essa sensação de insegurança, esse medo, mesmo daqueles que nos amam, e sobretudo desses, nos obriga a «pousar os pés» na terra. Ao invés, portanto, da passagem de crisálida a borboleta, voltamos para trás ao estado de lagarta. Bem agarrados, bem seguros, com muitas «patas» e quase sem sair do mesmo sítio. É difícil voar? Pois é. Mas voar é Ser."
in "Reaprender a viver" de Júlio Roberto

terça-feira, julho 17, 2007

Às vezes apetece-me sair de casa e andar pela berma destas estradas, numa noite com céu estrelado e sem vento. Apetece-me sair à rua numa noite de verão e ver todas estas gentes da minha aldeia a passear pelas ruas. Mangas curtas uns, calções, e outros sem a t-shirt. Uns que estão no banco acima da minha casa, simplesmente a falar e a ver passar as pessoas e os carros...
Tenho saudades das portas das casas abertas e do "Oh vizinha vou entrar". Tenho saudades da casa cheia e de comer caracóis na varanda da minha vizinha do lado. Tenho saudades dos velhos tempos, daqueles onde eu andava descalça pela minha casa e pelo meu quintal e me diziam "Vai te calçar que ainda te constipas!", e eu não ia. É esta minha teimosia e principalmente a teimosia desta criança, da criança teimosa que só chorava quando caía e se aleijava, que eu sinto falta. É daquele abraço em final de tarde e do momento em que tu desceste as escadas e eu continuei em frente, é daquela troca de olhares em sala de aula e no autocarro, é das palavras que me dizias cara a cara, das que me disseste ao ouvido e até mesmo das que me disseste boca a boca, que eu sinto falta. São saudades dum tempo que já não volta ou dum tempo que pode ainda estar por vir. É a esperança camuflada pela verdade de que já não existe, em mim, a criança teimosa, de que já não existem abraços em final de tarde nem mesmo olhares trocados. A verdade de que não existirão mais palavras que me beijem, mesmo se eu continuar a acreditar. É a incerteza de amanhã poderes não saber de mim, nem eu saber de ti, mas a certeza de que, onder quer que vá, te levo na caixa que guardo no meu coração... Quiçá não serás substituível...

domingo, julho 15, 2007