Às vezes apetece-me sair de casa e andar pela berma destas estradas, numa noite com céu estrelado e sem vento. Apetece-me sair à rua numa noite de verão e ver todas estas gentes da minha aldeia a passear pelas ruas. Mangas curtas uns, calções, e outros sem a t-shirt. Uns que estão no banco acima da minha casa, simplesmente a falar e a ver passar as pessoas e os carros...
Tenho saudades das portas das casas abertas e do "Oh vizinha vou entrar". Tenho saudades da casa cheia e de comer caracóis na varanda da minha vizinha do lado. Tenho saudades dos velhos tempos, daqueles onde eu andava descalça pela minha casa e pelo meu quintal e me diziam "Vai te calçar que ainda te constipas!", e eu não ia. É esta minha teimosia e principalmente a teimosia desta criança, da criança teimosa que só chorava quando caía e se aleijava, que eu sinto falta. É daquele abraço em final de tarde e do momento em que tu desceste as escadas e eu continuei em frente, é daquela troca de olhares em sala de aula e no autocarro, é das palavras que me dizias cara a cara, das que me disseste ao ouvido e até mesmo das que me disseste boca a boca, que eu sinto falta. São saudades dum tempo que já não volta ou dum tempo que pode ainda estar por vir. É a esperança camuflada pela verdade de que já não existe, em mim, a criança teimosa, de que já não existem abraços em final de tarde nem mesmo olhares trocados. A verdade de que não existirão mais palavras que me beijem, mesmo se eu continuar a acreditar. É a incerteza de amanhã poderes não saber de mim, nem eu saber de ti, mas a certeza de que, onder quer que vá, te levo na caixa que guardo no meu coração... Quiçá não serás substituível...
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