domingo, setembro 02, 2007

"- Só tenho mais uma camisola - disse ele, quando chegámos ao quarto. - Podes ficar com ela. Amanhã compro uma para mim.
- Colocamos as roupas em cima do aquecedor. Amanhã estarão secas - respondi. - De qualquer maneira, ainda tenho a camisa que lavei ontem.
Por alguns instantes, ninguém disse nada.
Roupas. Nudez. Frio.
Ele, finalmente, tirou de dentro da pequena mala uma camisola.
- Isto dá para tu dormires - disse.
- Claro - respondi.
Apaguei a luz. No escuro, tirei a roupa molhada, estendi-a em cima do radiador e girei o botão até ao máximo.
A claridade do lampião lá fora era suficiente para que ele pudesse ver o meu vulto, saber que eu estava nua. Vesti a camisola e enfiei-me dentro da minha cama.
- Eu amo-te - ouvi-o dizer.
- Estou a aprender a amar-te - respondi.
Ele acendeu um cirgarro.
- Achas que vai chegar o momento certo? - perguntou.
Eu sabia do que é que ele estava a falar. Levantei-me e fui-me sentar na borda da cama dele.
A ponta do cigarro iluminava o rosto dele de vez em quando. Ele agarrou na minha mão e estivemos assim por uns momentos. Então, acariciei os seus cabelos.
- Não devias perguntar - respondi. - O amor não faz muitas perguntas, porque - se começamos a pensar, começamos a ter medo. É um medo inexplicável, nem adianta tentar colocá-lo em palavras. Pode ser o medo de ser desprezada, de não ser aceite, de quebrar o encanto. Parece ridículo, mas é assim. Por isso não se pergunta - faz-se. Como tu mesmo já disseste tantas vezes, correm-se os riscos.
- Eu sei. Nunca perguntei antes.
- Tu já tens o meu coração - respondi, enquanto fingia não ter ouvido as suas palavras. - Amanhã podes partir e lembraremos sempre o milagre destes dias; o amor romântico, a possibilidade, o sonho.
in "Na Margem do Rio Piedra eu Sentei e Chorei" de Paulo Coelho

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