O Amor e o Tempo são casados. Não sei se numa união de facto, se num casamento pela Igreja, mas a verdade é que o são. São, talvez, dos únicos que eu sei que nunca se divorciarão, mesmo se, algum dia, estiverem chateados.
Para amar alguém é preciso tempo. É preciso espera, uma espera que pode ser difícil de ser esperada. Nada se constrói num dia e, muito menos, do dia para a noite, ou numa madrugada de Primavera de céu quase estrelado e uma brisa suave. Amar é como construir uma casa: é preciso um desenho feito pelo arquitecto, depois é preciso que um engenheiro civil avalie os materiais necessários e, depois, são precisos pedreiros, muitos pedreiros. Os arquitectos da nossa construção são os sonhos, os 1001 desenhos que fizemos na nossa cabeça. Os arquitectos somos nós próprios com aquilo que já vivemos e com o que sonhamos poder viver um dia. Depois existem os engenheiros civis, nós próprios também. Avaliamos se é viável amar determinada pessoa mas, a verdade, é que nunca tirámos o curso de engenheiria e, mesmo que vejamos que tal construção é possível de não ser viável, nós dizemos sempre que sim…Afinal, o desenho da nossa construção continua sempre bem presente nas nossas cabeças. Depois, somos também pedreiros. Trabalhamos, dias a fim, na chuva, no Sol, independentemente do tempo que faça lá fora. Construímos, pedra a pedra, tijolo a tijolo, pintamos, colocamos as janelas, colocamos as portas, o telhado. Se, no fim, temos ou não temos casa, isso depende de nós e depende, também, do tempo que fizer lá fora. Se, enquanto trabalhamos como pedreiros chover muito e tudo o que até então construímos se desmoronar é porque não estávamos a construir bem. Houve algo que falhou. Houve uma pedra que não ficou colocada no sítio certo, por exemplo. Aí há que ver o que está mal e re-construir.
Se, enquanto trabalhamos como pedreiros nunca chover e fizer sempre Sol, então nunca vamos poder saber como se a nossa casa irá ser inundada. O Sol faz sempre falta, é verdade, para secar a chuva, pois a única maneira de aprendermos a construir a nossa própria casa é quando o tempo está chuvoso, quando é Janeiro, chove torrencialmente e o vento não pára de empurrar as árvores.
Amar é como construir uma casa. Envolve vontade, querer, desejo em amar, mesmo que não nos sintamos amados. Querer amar é querer construir algo. Querer amar é gravar na memória o sorriso de um momento ou até mesmo o olhar. A cor dos olhos naquele instante em que ele sorria para vocês e vos dizia algo que, por mais parvo que possa ter sido, vos marcou. Querer amar é querer lembrar-se de cada palavra dita quando estavam com ele, sentadas no colo, na quase escuridão de umas escadas de um prédio. Querer amar é gravar o vosso olhar, gravar o olhar no momento em que, quando estavam com ele, vocês pararam, sentiram, viram o que estava a acontecer e pensaram no que dariam para que aquele momento se repetisse sempre, todos os dias. Querer amar é sentir que, também nós, podemos ser amadas, que nos seguram pela cintura para não cairmos, que nos seguram pela mão para subirmos as escadas pelo escuro, que encostam a cabeça no nosso peito. Querer amar é sentir que nos fazem rir e, acima de tudo, é sentir que nos fazem sentir bem.
Querer amar é, por vezes, não saber o que fazer. É viver nesta incerteza e inconstância do faço ou não faço, digo ou não digo porque respeitamos o tempo do outro. Querer amar é uma espera que desespera. Desespera porque, por vezes, não sabemos se estamos a querer amar a pessoa certa e se ela, depois de tudo o que nós fizermos para amá-la, também nos vai amar.
Deixar-se amar é outra coisa. Deixar-se amar é estar aberto ao outro e ao que o outro nos pode dar. Deixar-se amar é não perguntar porquê. É dizer apenas que sim… E, aqui, talvez me atreveria a dizer que que deixar-se amar é o estado de quem não ama ou não quer amar. É, talvez seja, mas é, também, o estado de quem não se importa de deixar-se amar por quem está a querer amá-lo. É o estado de quem se deixa levar…É o estado que, para aquele que quer amar, é difícil compreender…
Sempre ouvi dizer que, numa relação há sempre um que ama e outro que é amado. Numa relação ultra-sensorial talvez exista sempre um que quer e outro que vai querendo…
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