sábado, abril 11, 2009

Uns riscos e outros não riscados

Conhecemos pessoas. Falamos com essas pessoas. Estamos com essas pessoas. Divertimos-nos com essas pessoas. Passamos bons momentos com essas pessoas. Quando assim acontece, queremos estar com elas. Depois, depois existem aquelas pessoas que conhecemos, com as quais falamos e estamos e não queremos estar com elas por um qualquer motivo. Não temos todos de gostar de estar com todas as pessoas que conhecemos. Não somos obrigados. Existem aquelas de quem gostamos e outras de quem não gostamos. Existem aquelas com quem mais simpatizamos e aquelas com quem menos simpatizamos. Depois, por fim, existem ainda aquelas pessoas que conhecemos, com quem falamos, com quem estamos, com quem nos divertimos, com quem passamos bons momentos, mas que, para nós, é indiferente estar ou não estar com elas ou, para elas, é indiferente estar ou não estar connosco. Se estivermos tudo bem, se não estivermos, as águas e as ondas do Tejo não se aumentarão… Tanto faz. E, tanto faz, é o estado dos que se deixam levar.

Às vezes, é difícil estarmos com as pessoas com as quais gostamos de estar. A vida que temos, o nosso dia-a-dia leva-nos, por vezes, a atribuir as culpas ao tempo que não temos ou ao nosso cansaço. Às vezes ‘não temos mesmo tempo nenhum’ ou ‘estamos mesmo muito cansadas’, que só nos apetece arranjar tempo para nos deitarmos no nosso sofá, arranjar tempo para fazer o jantar, para ir a trinta minutos no Viva Fit ou até mesmo para irmos ‘num instantinho ao Fórum porque precisamos mesmo’. Trinta minutos no Viva Fit, mais trinta minutinhos no Fórum para comprar não sei o quê, mais quinze minutos em que nos deitamos no sofá e mais quarenta minutos para fazer o jantar. No fim, façam contas e vejam o ‘tempinho’ que arranjámos quando ‘não tínhamos mesmo tempo nenhum’ ou ‘estávamos mesmo muito cansadas’. Eu, por vezes também me incluo nesta categoria: não tenho mesmo tempo ou estou mesmo muito cansada. Outras vezes, outras vezes é simplesmente porque não me apetece. Porque quero estar sossegada no meu canto, comigo mesma, com os meus botões ou o fecho do meu casaco. Por vezes é, simplesmente, porque não quero que chateiem, porque queria apenas poder chegar a casa e ter alguém que estivesse deitado no sofá, a ver um episódio da Anatomia de Grey, e que me abraçasse, quando eu também me deitasse no sofá. Às vezes, é difícil estarmos com as pessoas com as quais gostamos de estar porque apenas gostaríamos que uma outra pessoa que gostasse de nós quisesse estar connosco.

Às vezes, também é difícil não estarmos com as pessoas de quem não gostamos muito. Por vezes, não sabemos como dizer que não, já estivemos no lado de lá, e a nossa voz pronuncia um ‘sim’. O difícil não é dizer que ‘não’, mas sim de que forma dizemos que ‘não’. Isto principalmente se a pessoa estiver apaixonada por nós. Não é um ‘não’ que ela não consegue lidar. Aliás, o difícil não é ouvir um ‘não’, mas sim o que vem depois do ‘não’. Para ouvir um ‘não’ podemos estar preparadas, mas para lidar com as consequências desse ‘não’, às vezes não estamos. Por isso, às vezes, prefiro dizer ‘logo se vê’, que acaba por ser um não camuflado e que pode ter duas percepções: uma, o estar a dar-se esperança, outra, o estar a mostrar desinteresse. Por vezes questiono-me se não é mais fácil, dizer logo que não, mesmo sabendo o que a outra pessoa pode vir a sentir, o que ela pode vir a sofrer.

Depois vem a terceira dificuldade. A dificuldade em estar com as pessoas com as quais gostamos de estar, mas que nos parece ser indiferente para elas estarem ou não estarem connosco. Ou, então, a dificuldade de algumas pessoas estarem connosco porque, para elas, é indiferente estarmos ou não estarmos. E aqui, aqui o difícil é estarmos, constantemente, a tentar aproximar-nos e travarem-nos sempre. Difícil é quando não nos deixam sequer chegar perto, nos colocam uma barreira no exacto momento da nossa aproximação. E nós resistimos. Resistimos e continuamos a tentar esta aproximação. Continuamos a demonstrar àquela pessoa que queremos estar com ela, mesmo que ela continue a tentar afastar-nos. É, talvez, um jogo de futebol. Tentamos levar a bola para a frente e marcar golo, mas não conseguimos, salvo raras vezes. Não conseguimos porque a bola sai de campo e, aí, o guarda-redes da equipa adversária pontapeia-a para o nosso campo. E aí, aí voltamos a percorrer o campo com a bola nos pés e a tentar, de novo, marcar golo. É um jogo, sim. É um risco, também. É o risco de os jogadores ficarem cansados, de podermos não ter mais suplentes nem um treinador que nos oriente. É o risco de perdermos o jogo nos 90 minutos em que o jogámos, sim. Mas a vida, é um risco. As nossas opções são um risco. Há o risco de errar e de aprendermos com os nossos erros, e há ainda o risco de ganharmos. A questão é: vale ou não vale a pena correr durante 90 minutos num campo, com a bola nos pés, por estes riscos? Vale, claro que vale a pena. Vale porque nunca sabemos se a equipa adversária, a certa altura do jogo, vai deixar de estar sempre à defesa. Não sabemos se, a certa altura do jogo, a equipa adversária não resolve ser mais pró-activa, e também ela jogar ao ataque. E vale a pena corrermos o risco de estarmos com uma bola nos pés porque não sabemos se, no final do jogo, a equipa em que jogámos e a outra trocam T-shirts e abraços e passam as duas à final.

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