SEMPRE achei que as lágrimas nunca secassem quando gostamos de alguém e essa pessoa nos deixa, mas descobri que estava errada. As pessoas deixam-nos, as lágrimas rolam mas, mais dia ou menos dia acabam por secar. Já não se chora compulsivamente. Já não caem lágrimas quando, simplesmente, pensamos nessa pessoa.
O Domingos Amaral escreveu um livro que se chama Já ninguém morre de amor e eu acho que é verdade. Morria-se, agora já não se morre. Chora-se, sofre-se, mas a vida segue em frente. Aliás, a vida tem sempre de seguir em frente. Os Homens e as Mulheres de hoje já não perdem tempo com os amores de Hoje que não dão certo, pois sabem que Amanhã há um novo amor que pode espreitar por entre a esquina de uma qualquer rua pela qual se passa, de um qualquer caminho por onde se anda.
DISSE-TE que esperava que me dissesses algo, que simplesmente me dissesses quando e eu ía. Não te falei mais, fora um mero olá que nunca faz mal a ninguém e que, mesmo se não for correspondido, eu sempre achei que relembra ao outro que ainda cá estamos e que ainda nos lembramos. Foi isso que fiz contigo. Tu, nada.
ONTEM fiz um esforço enorme para não me lembrar de ti, para não pensar em ti, fora quando estava na parte detrás de um carro, encostada num ombro amigo, a falar de ti e a percorrer as ruas de Lisboa à procura de um lugar vazio para estacionar o carro no Bairro Alto. Depois, depois tentei esquecer-te e, acho que consegui. Não te procurei pelas ruas do Bairro, não pensei sequer que te poderia encontrar. Como podia se tu foste embora? Se tu viraste costas e disseste que tinhamos de acabar?
Ontem não te procurei, mas também não procurei ninguém porque és tu e a recordação de ti e de nós que ainda preenchem o vazio que sinto nas noites. É a tua existência em mim que me faz sentir a tua falta.
HOJE disseste-me olá e eu não respondi. Não estava. E as lágrimas, por ti, afinal ainda não secaram...Falta tempo.