O Boss AC dizia que só precisava de 5 minutos e eu concordo. Também eu, às vezes, só preciso de 5 minutos. Mas hoje não venho falar dos 5 minutos que precisamos na vida para fazermos o que queremos. Se formos a ver, há quem precise de mais do que 5 minutos e há quem queira despender muito mais do que este tempo.
Sejam 5 minutos que é o tempo que dura a música da Madonna com o Justin Timberlake ou 10 minutos, o tempo que demoram as publicidades das estações televisivas (à excepção da Fox Life). Ou sejam, ainda, os 15 minutos, o tempo que demoramos a flutuar no Tejo entre o Cais do Sodré e Cacilhas. Quinze minutos é o tempo ideal para fazer tudo, tudo aquilo que não fizémos antes. Depois de não termos parado nos transportes públicos em lisboa: primeiro o autocarro que nos leva até ao Jardim Zoológico, depois a linha azul até à Baixa e, por fim, da Baixa ao Cais na verde. Andámos neste corrupio estonteante e se existe um momento em que todos os Portugueses têm a mesma filosofia e a mesma opinião é na utilização do Metro: por mais cheio que possa estar, por mais que se veja, de fora, que não cabe mais ninguém naquela carruagem do metro porque está tudo 'atafulhado' lá dentro, cabe sempre mais um! E, mais um, significa caber sempre aquele que quer entrar porque quer apanhar o barco das X horas para, depois conseguir apanhar o autocarro ou o metro superfície às Y e chegar a casa às Z horas, a tempo ainda de pegar no carro e ir ao Fórum Almada ou a outro sítio qualquer.
Quinze minutos é o tempo ideal para se flutuar no Tejo e se fazer tudo o que não se fez nos minutos antes da Travessia. Afinal, com a carruagem tão cheia e 'meio sardinha enlatada' nem o livro ou o jornal se podia ler... E é aqui, no barco, que entram as actividades que revitalizam o nosso fim de dia...
No barco, há quem leia o jornal. Há outros que acreditam que são naqueles 15 minutos que vão conseguir ler as últimas 10 páginas que faltam para acabar o livro que lhes segue há 1 mês nas viagens nos transportes públicos. Depois, há quem aproveite para utilizar as tecnologias: os telemóveis e os iphods. Mandam-se SMS a quem se tem de mandar, descobre-se no telemóvel aquilo que ainda não se descobriu (mesmo tendo-o comprado o mês passado), ouve-se R&B, Hip-Hop, Pop, Jazz, Rap, House e outras músicas de géneros inconclusivos. Há ainda quem aproveite para namorar e partilhar com o respectivo companheiro/a o que aconteceu de significativo no trabalho: fulana tal disse alho e cicrano disse bugalho. Mas, entre estes todos, os meus preferidos são aqueles que não fazem nada, mas que fazem tudo: olham e pensam. Aqueles que olham para a senhora que está ao lado a fazer crochet e que pensam que também gostariam de saber fazer. Aqueles que olham lá para fora, para o Tejo, para a Liberdade e pensam quando é que se têm de levantar da cadeira para irem para a porta. E, como preferido dos meus preferidos, existem aqueles como eu, que olham e pensam e escrevem mentalmente o que estão a ver. Aqueles, como eu, que criam a história daqueles 15 minutos, que os descrevem no pensamento para os escreverem mais tarde ou no dia seguinte. Estes, como eu, que gostam de observar os pormenores e pensar sobre eles, procurar a descrição ínfima, o tricotar da senhora de meia-idade com uma malha roxa cor da moda no meu lado direito, num dos bancos junto à janela, onde a rapariga da frente olha fixamente para a velocidade daquela acção. Isto tudo, enquanto o barco parou os motores e apenas flutua no Tejo e, onde, o rapaz ao lado olha para a janela e pensa que aquele é o momento exacto para se levantar e ir para a porta pois, só assim, será o 1º a sair do barco.
Para alguns, isto que disse pode não fascinar. Pode não fascinar o corrupio nos transportes públicos, a filosofia da 'sardinha enlatada' no metro de Lisboa, o tricôt roxo da senhora de meia-idade, ou até mesmo o tipo ou a cor da lã com que se tricôta a nossa vida.
A vida, por vezes, não fascina e, não fascina sobretudo, a quem não tem por hábito olhar para os pequenos aspectos fascinantes da vida que, na maioria das vezes, são aqueles que mais passam despercebidos. O fascínio está na procura em saber como determinada coisa e determinada pessoa são e isso, só se concretiza no olhar. E não estou a falar de ver. Estou a falar de olhar porque olhar, é muito mais do que simplesmente ver.