As coisas que nos acontecem na vida, acontecem sempre num determinado tempo. Por vezes queremos antecipar o tempo das coisas, noutras vezes, queremos retardar esse tempo. O tempo das coisas não é igual em todas as pessoas. Cada coisa surge em tempos diferentes em cada pessoa. Lá por a nossa amiga ter uma coisa num certo tempo da vida dela, não quer dizer que nós, que vivemos no mesmo tempo que ela, tenhamos essa mesma coisa. As coisas aparecem no tempo da nossa vida quando devem aparecer. Aparecem quando estivermos preparadas para receber essa coisa ou quando já tivermos passado por coisas-passadas que se tornam importantes para compreender essa coisa-futura. Por vezes, as coisas que aparecem aos outros podem não aparecer em nós. Para quem precisa de uma justificação do porquê de não aparecem a elas, pensem que é porque vos esperam coisas melhores...
Tomemos o exemplo da coisa que é 'ter namorado'. Lá porque todas as pessoas que nos rodeiam tenham namorado, não quer dizer que nós também tenhamos de ter. Lá porque algumas pessoas à nossa volta andem a pinar, não quer dizer que nós também o tenhamos de fazer. Há coisas que podem acontecer às outras pessoas porque é o tempo de acontecer nelas, mas não significa que tenham de acontecer em nós, não significa que tenham de nos acontecer no exacto tempo em que lhes acontece a elas. Ás vezes podemos não estar preparadas para esta coisa que é 'ter namorado' ou para estar coisa que é 'o sexo'. Não queiramos apressar certas coisas porque há coisas que não podem ser apressadas! Há coisas que acontecem quando têm de acontecer, porque têm de acontecer e a quem têm de acontecer...
Isto leva-me a pensar noutra coisa. A coisa que é 'querer que a nossa vida seja igual à vida das pessoas que nos rodeiam', que siga o mesmo padrão. Às vezes, para algumas pessoas, há um desespero: o desespero em encontrar alguém e de, quando se encontra esse alguém,o desespero em querer à força toda que esse alguém seja o salvador, que seja o alguém que andávamos à espera há muito tempo. O despero para que esse alguém seja o homem ideal, a perfeição de homem que algumas amigas têm, a pessoa com quem nós iremos viver os próximos dias da nossa vida, com quem iremos fazer as viagens românticas que sempre sonhámos, com quem iremos jantar em restaurantes românticos, com quem iremos a cafés românticos, com quem iremos a todos os sítios que têm uma ponta de romantismo. E nisto do desespero, há pessoas que têm este desespero na fase de encantamento e que vivem esta fase loucamente apaixonadas, que respiram e transpiram desespero e que têm de ir a todos estes sítios-com-ponta-de-romantismo Hoje porque Amanhã já será tarde.
Depois, existem aquelas pessoas que inspiram e expiram o desespero mas com calma. Inspiram e expiram profundamente porque 'se não formos Hoje, podemos ir Amanhã. Não haverá problema e há tempo. Há muito tempo'.
O modo como vemos as coisas que acontecem aos outros, o modo como assumimos, ou não, que também temos de ter essa coisa no mesmo tempo que a outra pessoa tem depende da nossa capacidade de 'ir com a maré'. É esta coisa de 'ir com a maré' e com o que os outros fazem, dizem ou pensam que me assusta. Assusta-me que, cada vez mais, se queira fazer, dizer ou pensar o mesmo que o outro faz, que o outro diz ou que o outro pensa. A ideia de que 'se o outro tem eu também tenho de ter' é, para mim, absurda. E mais absurdo e incompreensível é o que, por vezes, se faz para se conseguir ter a mesma coisa que o outro tem.
Esta inveja-novata das coisas que o outro tem, este 'ir com a maré' assusta-me. Assusta-me, por vezes, a falta de identidade e o tentar ao máximo adaptarmo-nos às pessoas de um grupo, tentar ser como elas para termos as coisas que elas também têm...
As pessoas não são iguais e não têm de ser iguais. As pessoas são diferentes. Têm diferentes maneiras de ser, diferentes modos de lidar com as situações. As pessoas têm diferentes padrões e modos de viver as suas vidas. Por mais que o tempo possa ser igual, as coisas da vida aparecem em tempos diferentes em cada pessoa. Aparecem quando têm de aparecer, porque têm de aparecer e a quem têm de aparecer. Não queiramos apressar ou retardar a sucessão das coisas. Não queiramos 'ir com a maré' nas várias coisas da nossa vida. Acima de tudo, sejamos capazes de ser fiéis a nós próprios e ao que somos.
Mais do que as coisas nos acontecerem é termos a capacidade de tirar proveito das coisas que nos acontecem, de aprender com essas coisas, de aproveitar cada segundo dessas coisas. Querer, podemos sempre todos querer muitas coisas. Mas, por mais que tenhamos o que queremos, a grande diferença está em saber como saborear as coisas que temos...
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